20.5.15

ESTUDANTES OCUPAM A REITORIA DA UFRJ HÁ SEIS DIAS. TERCEIRIZADOS NÃO RECEBEM SEUS SALÁRIOS HÁ SEIS MESES. PROJETO NEOLIBERAL ENTRA EM COLAPSO E UNIVERSIDADE PARA

DANIELA ABREU -


Embalados com o fervor que envolveu a eleição para reitor e com um sentimento de classe, que impede que olhos permaneçam fechados diante o caos e o desespero e trabalhadores que não tem como viver, por não receberem salários há seis meses, estudantes ocupam a seis dias a Reitoria da maior Universidade do Brasil. 

Muitos que lutavam contra as terceirizações, hoje lutam ao lado dos trabalhadores terceirizados, incoerência? Não, a luta é contra a política neoliberal na educação, que mercantiliza e precarisa as instituições de ensino, os trabalhadores e o conhecimento. Uma crise como esta só explicita a severidade que é o sistema com terceirizações. 

A terceirização caiu no debate popular esse ano devido à votação do PL4330 no Congresso Nacional. Embora grupos de interesses empresariais defendessem o projeto, muitos tentavam esclarecer o retrocessos nos direitos trabalhistas. E agora com a exigência internacional de corte de verba nas instituições públicas, são eles os trabalhadores terceirizados os primeiros atingidos. Tornam-se claro a precarização desse modelo de trabalho. O trabalhador terceirizado vive um sistema opressivo, salários baixos e direitos menores do que da maioria dos trabalhadores. Ao contratar uma empresa terceirizada não será pago apenas ao trabalhador, mas o dinheiro será depositado diretamente para a empresa que ficará responsável de repassar. Nas instituições de ensino públicas do Brasil essa tem sido a dinâmica. O que chamam parceria pública privada significa escoar verba publica para empresas privadas. Quem lucra? A Instituição Pública? Os trabalhadores das empresas privadas? Após uma eleição como esta para Reitor onde o debate sobre programa e projeto, a comunidade universitária acordou e se articulou. Hoje exige o retorno do seu papel de produtora de conhecimento, e de todas as garantias que isso ocorra. Reivindicam também transparência nas licitações e rapasse das verbas para as empresas privadas, além da suspensão da empresa Qualitécnica. Pautas das lutas estudantis são também motivações para a ocupação como abertura imediata do edital da bolsa auxílio, transferência dos estudantes moradores da Moradia Estudantil entre outras. 

A ocupação da Reitoria começou no dia 14 de maio, após a reunião do Conselho Universitário estudantes decidiram ocupar a Reitoria da UFRJ. O Conselho acontece meio ao caos instalado, no centro do caos trabalhadores terceirizados definhando, sem salários e com a vida em migalhas. São seis meses sem receber seus vencimentos, não havendo outra possibilidade do que entrar em greve. Estudantes levaram suas reivindicações, mas o Reitor Carlos Levi abandona a reunião antes da mesma ser encerrada, deixando sem respostas questões essencial para o funcionamento do Campus.

Após a ocupação, a reitoria foi obrigada a abril canais de negociação e passou a realizar reuniões. Na reunião do dia 18 de maio, afirmou que irá depositar o dinheiro para o pagamento dos terceirizados amanhã, exigindo o retorno dos trabalhadores em greve. Os mesmos foram ameaçados de demissão caso não retornem. Também tem se comprometido com demandas dos movimentos estudantis. 

O Reitor Carlos Levi que tem sido um representante desse governo no seu mandato, não esconde o seu constrangimento. Quem compreende a importância do espaço universitário como produção de conhecimento não suporta tal degradação, mesmo os liberais. 

O ápice do caos e do esgotamento desse modelo coincide o melhor momento de organização da comunidade universitária contra a política neoliberal, onde universidade empresa, com metas e lucros, não enchem mais os olhos dos estudantes e da sociedade. 

Ocupar a reitoria nesse momento é garantir o espaço democrático. Estudantes, professores e funcionários exigindo a participação nos rumos da Universidade Pública no Brasil. 

O cenário muda e a UFRJ escreve importantes capítulos na história da educação brasileira. O mês de maio traz o germe da ruptura com o modelo neoliberal, meritocrático e privatizante. Primeiro uma eleição onde com um percentual maior que o dobro, ganha o candidato representante de toda esquerda, agora uma ocupação com centenas de estudantes, com apoio de funcionários e professores.  Que tempos são esses? Esses são tempos de mudança. Que sopre o vento para cada Federal do Brasil. Consulta universitária não tinha o seu resultado respeitado.