Por CAMILA NOGUEIRA - Via DCM -
Em 1721, Montesquieu, um dos filósofos que mais influenciaram os
revolucionários franceses de 1789, publicou um romance chamado Cartas
Persas, que segundo contemporâneos “vendeu como pão recém saído do
forno”. Epistolar, o livro contêm reflexões sobre diversos temas – amor,
liberdade, religião e islamismo. As frases abaixo foram retiradas dessa
obra prima. É mais um capítulo de nossa série “Conversas com Escritores
Mortos”, em que já entrevistamos gênios como Tolstói, Sêneca e Virginia Woolf.
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| “Como falta luz ao elogio, quando este reflete para o mesmo lugar de onde procede!” |
Em seu romance epistolar Cartas Persas, o senhor alega que um
dos piores defeitos que uma pessoa pode ter é a falta de modéstia. Como
assim, Monsieur?
Encontramos, por toda a parte, pessoas que não param de falar de si
mesmas; sua conversa é um espelho que apresenta, o tempo todo, uma
impertinente figura. Além de não sentir o mínimo interesse pelos outros,
falam das menores coisas que lhe sucederam, e pretendem que o interesse
pessoal que por elas sentem as engrandeça aos olhos de todos. Não há
nada pior do que a companhia de um egocêntrico.
O que define as pessoas egocêntricas?
Tudo fizeram, tudo viram, tudo disseram, tudo pensaram; constituem um
modelo universal, um tema inesgotável de comparação, uma fonte de
exemplos que nunca seca.
Para quem isso é mais prejudicial – para o próprio egocêntrico ou para o ouvinte?
Para o ouvinte, principalmente, porque sente uma genuína vontade de
se enforcar. E, ah!… Como falta luz ao elogio, quando este reflete para o
mesmo lugar de onde procede!
O que podemos fazer para não agir dessa maneira?
Pode parecer contraditório, mas a vaidade é muito útil. Feliz quem é
tão vaidoso que nunca elogia a si mesmo, que receia seus ouvintes e não
compromete o próprio mérito com a arrogância alheia.
E o que define a virtude?
A discrição. Conheci pessoas em quem era tão natural a virtude que
mal se fazia perceber – e, assim, tais pessoas se consagravam ao dever
sem necessidade de dobrar-se a ele, e seguiam-no como que por instinto.
Longe de se vangloriar de suas preciosas qualidades, parecia que sequer
as notavam.
