CARLOS CHAGAS -
Ponto alto da sessão inconclusa do plenário do Senado, na noite de
quarta-feira, foi o discurso do senador Lindbergh Farias, do PT do Rio
de Janeiro. Liderando um grupo de onze rebeldes senadores da base
governista, entre eles Paulo Paim, também do PT,emocionado, o
ex-presidente da UNE e ex-prefeito de Nova Iguaçu, explicou porque
votaria contra a medida provisória do esbulho dos direitos trabalhistas
e previdenciários. Redimiu parte das esquerdas que não aceitam o
neoliberalismo da presidente Dilma e do ministro Joaquim Levy, porque a
conta do ajuste fiscal não pode ser enviada apenas para o trabalhador.
Lindbergh criticou e pediu o abandono da política econômica do
governo, sendo aplaudido pelas galerias cheias de sindicalistas e pela
oposição a Madame. Leu um manifesto de intelectuais, contra a estratégia
desenvolvida pelo palácio do Planalto. Outros oposicionistas
solidarizaram-se com ele e Paim: Lídice da Mata, Roberto Rocha, Antônio
Carlos Valadares e João Capiberibe, do PSB, Randolfe Rodrigues, do
PSOL, Roberto Requião, do PMDB, Cristóvan Buarque, do PDT, Marcelo
Crivela, do PRB, e Hélio José, do PSD.
Foi com base nesses dissidentes e pelo adiantado da hora que os
lideres do governo, apoiados pelo presidente Renan Calheiros, decidiram
adiar para a próxima terça-feira a votação da medida provisória 664,
que reduz direitos do salário desemprego, do abono salarial e dos
pescadores. A matéria seria rejeitada, o quorum diminuía e a sombra da
derrota foi adiada para a semana que vem. A guerra será de foice em
quarto escuro, inexistindo garantias de que o governo sairá vencedor.
Uma desmoralização dos diabos para os donos do poder.
Neste fim de semana os líderes das bancadas governistas estarão
refazendo contas e procurado senadores postos em dúvida, claro que
levando em suas bagagens múltiplos atos de nomeação para cargos do
segundo escalão, com o que imaginam poder virar o jogo das
especulações.
ACREDITAR, POUCOS ACREDITAM
Os governadores estaduais deixaram Brasília mais ou menos como
chegaram: desconfiados do haver participado de uma reunião que a
pretexto de discutir o pacto federativo, resumiu-se a um exercício de
enxugar gelo e ensacar fumaça. Reunidos pelo presidentes da Câmara e
do Senado, com apenas três ausências, os governadores acreditam que
dificilmente o Congresso poderá suprir o vazio de suas dificuldades de
caixa, de dívidas e de investimentos, coisa que apenas ao governo
federal seria dado resolver. Os super poderes do palácio do Planalto tem
sido utilizados para aumentar as agruras dos estados, que por sinal
apresentam reivindicações até contraditórias. A Federação cada vez mais
transforma-se em peça de ficção.



