INFORMAÇÃO LIVRE

24.4.15

OS BATALHADORES, A CONTA E O CASTIGO

Por HÉLIO DUQUE - Via AD - 


“O que surgiu no Brasil nos últimos anos não foi uma nova classe média, mas uma nova classe trabalhadora precarizada, super explorada.” Em 21 de março de 2013, o sociólogo Jessé José de Souza, professor da Universidade Federal Fluminense, no seu livro “Os batalhadores brasileiros – nova classe média ou nova classe trabalhadora””, contestava a teoria oficial de surgimento de uma nova classe média. Expressão criada pelo economista Marcelo Neri, então presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e posteriormente promovido a ministro no governo Dilma Rousseff. Recentemente demitido, para o seu lugar foi nomeado o ministro Mangabeira Unger. Ao assumir alertou que nos últimos anos o “keynesianismo vulgar” agravou os problemas do Brasil, adiando o dia da conta e do castigo. 

O Ipea, órgão subordinado ao seu ministério, passou a ter um novo titular. E o escolhido, surpreendentemente, foi o sociólogo Jessé José de Souza, para restabelecer e resgatar a credibilidade do órgão. No seu livro afirmava: “Dizer que os emergentes são a nova classe média é uma forma de dizer, na verdade, que o Brasil finalmente está  se tornando uma Alemanha, uma França ou uns Estados Unidos. Nossa pesquisa empírica e teórica demonstrou que isso é mentira”. Na mesma direção o ministro Mangabeira Unger, não deixa por menos, constatando que a política econômica dos governos Lula e Dilma teria gerado alto nível de emprego, mas a grande maioria empregada em serviços de baixa produtividade e sem futuro. 

A realidade, nesse segundo mandato presidencial, está dando total razão às contundentes constatações de Mangabeira Unger e Jessé José de Souza. Eles parecem ter emergidos do realismo fantástico do escritor Gabriel Garcia Marques, autênticos personagens do romance “Cem Anos de Solidão”. Na verdade o governo vendeu para a sociedade no curto prazo um cheque especial sem cobertura, esquecendo o futuro, enxergando com “ativo populismo”, unicamente “objetivos eleitorais”. Por algum tempo o engodo deu certo, alicerçado nos marqueteiros e suas campanhas milionárias. Agora a crise econômica e social se espalha anulando conquistas e travando a ascensão social de milhões de brasileiros. A fragilidade das instituições econômicas atingiu o ápice. 

As famílias estão sendo obrigadas a apertar o cinto, tarifas públicas, aluguel, remédios e alimentos absorvem a quase totalidade do orçamento doméstico. As finanças familiares podem ser medidas, no que ocorreu no mês de março: os recursos da caderneta de poupança foram sacadas para pagar dívidas no montante de R$ 11,4 bilhões. Paralelamente o endividamento está levando ao desespero enormes parcelas da população. Agravado com o desemprego, atestado pela Pnad-Continua, se expandindo nos grandes centros urbanos. Mesmo quem continua empregado teme o que pode vir a acontecer. É um cenário preocupante. Onde a alta da inflação é perigoso combustível. 

Resultado de tudo isso é economia em recessão, desvalorização da moeda, inflação ascendente, queda de salários e ajuste fiscal penalizador da sociedade. Para piorar: crise política expondo a fragilidade dos “apelidados” partidos políticos e escândalos de corrupção explodindo como um rio caudaloso. 

Atônito o governo queda-se perplexo engolfado em um terremoto que ele próprio produziu. E negado pela candidata à reeleição Dilma Rousseff na campanha eleitoral. Gerando no bojo da crise, a frustração da sociedade por ter sido enganada. Agora tardiamente tenta corrigir a rota, reconhecendo na prática os erros cometidos, mas sem admitir publicamente. O governo é uma metáfora.