Via Rede Brasil Atual -
Na era em que o combate à corrupção e o discurso da moral estão na
ponta da língua, a Rede Globo e sua história de desvios e manipulações
parecem passar incólumes pelo crivo crítico daqueles que vestem verde e
amarelo. A turma da CBF moradora em São Paulo preferiu neste domingo
(26) ficar em casa – presumivelmente vendo a final do campeonato paulista e o Faustão –,
enquanto centenas de pessoas de diversos movimentos sociais se
manifestavam contra a emissora da família Marinho e seus 50 anos de
histórias de contribuições à ditadura, às elites e ao conservadorismo do
país.
Às 15h, os manifestantes começaram a se reunir na praça General Gentil Falcão, zona sul da capital paulista, nas proximidades da sede da emissora.
"Meus filhos assistem TV e eles assistem a Globo, mas precisam saber,
desde cedo, que a Globo manipula e que poderíamos ser um país melhor
sem ela”, declarou Edson Vargas, que veio de bicicleta de Ribeirão
Pires, na região do ABCD paulista, com os dois filhos, de 12 e 10 anos,
somente para participar da manifestação.
Quando o ato saiu da praça e ocupou a avenida Luiz Carlos Berrini,
eram 400 manifestantes, segundo a organização do ato (120, segundo a
PM). Entre eles, Pedro Ekman, do Intervozes, um dos movimentos
organizadores da manifestação. "O mais grave é o fato da Globo ser um
monopólio de comunicação. É absolutamente antidemocrático. Você tem uma
Constituição Federal que proíbe o monopólio da informação e você tem uma
empresa que detém 70% do mercado. Isso em qualquer país civilizado é
considerado um monopólio", defendeu o ativista.
Durante toda a última semana, sob o comando do editor do Jornal
Nacional, William Bonner, a Globo fez uma retrospectiva do jornalismo da
emissora nos últimos 50 anos. "Foi uma piada", atacou Altamiro Borges,
jornalista e coordenador do Centro de Estudos da Mídia Barão de Itararé,
que comparou a emissora carioca a um "assassino". "Eles te matam e
depois pedem desculpas à família. Do que adianta? O caos já está feito.
Se a Globo não manipula o debate de 1989, onde o Brasil estaria hoje?
Sem o apoio da Globo ao golpe militar de 1964, onde o Brasil estaria
hoje?", disse, referindo-se ao debate presidencial entre os então
candidatos Lula e Fernando Collor, em que este acabou eleito. A própria
emissora, por meio de alguns de seus executivos à época, já admitiu ter
editado trechos do debate para favorecer a candidatura de Collor.
Comum entre os manifestantes era a lembrança de que a emissora,
durante seus 50 anos, foi responsável pela criminalização e
inviabilização de diversos movimentos sociais.
"Na Globo, nós, os movimentos sociais, sempre somos tratados como
'vândalos', nossos atos estão sempre vazios e os discursos são
manipulados pelos repórteres deles", lembrou Jussara Basso, da
coordenação nacional do MTST. "Como concessão pública, eles deveriam
transmitir ao povo o que está acontecendo, eles devem satisfação ao
povo, mas mentem e não são cobrados por isso."
Tinta vermelha
Já na entrada principal da Rede Globo, os manifestantes picharam no
muro algumas mensagens: "Assassina", "Globo Mente" e "Globo Golpista".
Durante o protesto, algumas palavras de ordem foram gritadas e quatro
balões com tintas vermelhas foram arremessados contra o muro.
Ainda na frente da emissora, os manifestantes sentaram no chão e
acompanharam o vídeo do direito de resposta que o ex-governador do Rio
de Janeiro, Leonel Brizola, conseguiu na Justiça e que foi lido ao vivo,
na Globo, por Cid Moreira – um momento histórico da TV brasileira e
marco da resistência ao autoritarismo da "vênus platinada". Assista aqui.
Passava das 18h quando os manifestantes começaram a retornar à
praça General Gentil Falcão, ponto de partida do ato. "São 50 anos de
não-comemoração. A Globo neste tempo manipulou o povo e não mostrou a
realidade do país, não temos motivos para comemorar. A Globo divide o
poder com a mesma elite que comanda o país desde 1965", afirmou Gabriela
Guedes, do Levante Popular da Juventude.
CUT, MTST, UNE, Levante Popular da Juventude, Intervozes e Juntos estavam entre as entidades que organizaram o ato.
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