CARLOS CHAGAS -
A Câmara deu prova cabal de impotência, ao adiar para a semana que vem a decisão sobre a lei da terceirização do trabalho. Do fundo sobressai estarem os deputados num empate entre capital e trabalho. O texto base do projeto foi aprovado por ampla maioria, mas ficando questões fundamentais para ser decididas através dos destaques. Nessa hora, não houve acordo. Por duas vezes Suas Excelências empurraram as votações com a barriga.
O impasse demonstra a influência dos empresários, empenhados em
reduzir o quanto puderem os direitos do terceirizado, e, em paralelo, a
indignação dos que sustentam a preservação das prerrogativas do
trabalho.
Nada de novo debaixo do sol, apesar de o Legislativo existir
precisamente para buscar a sombra, quer dizer, a conciliação entre os
dois valores. Não foi possível, nas duas últimas semanas. Trata-se de
uma queda de braço ainda sem vencedor conhecido. Em meio a muita
confusão, é o que pode ser resumido do atual embate.
O singular nessa história é que o debate sobre a terceirização
coincide com a tentativa do governo de, em nume do ajuste fiscal,
reduzir outro tipo de direitos sociais, como o salário-desemprego, o
auxilio-salário e a pensão das viúvas. Cai a máscara da presidente Dilma
diante de quem quiser saber sua verdadeira posição frente ao projeto de
terceirização. O governo gostaria de ver aprovado texto inicial que
favorece a extinção de prorrogativas trabalhistas, como a de salários
iguais para trabalho igual e permissão para se terceirizar
atividades-fim de empresas públicas e sociedades de economia mista. Sem
falar na dúvida sobre quem responde pelo não cumprimento de dispositivos
da CLT, se a contratante ou a contratada. A primeira ironia, no caso,
vai por conta de estarem no mesmo barco os dois maiores desafetos da
Praça dos Três Poderes, a presidente Dilma e o presidente da Câmara,
Eduardo Cunha. A segunda, quando se vê o Partido dos Trabalhadores,
mesmo rachado, contribuir para a supressão de direitos sociais.
CONTINUA NÃO SABENDO DE NADA
O ex-presidente Lula foi o responsável maior pela presença de Delúbio
Soares, antes, e de João Vacari Neto, depois, na tesouraria do PT. Nos
dois casos, sustentou a injustiça da condenação de um e da prisão de
outro. Desgasta-se, o primeiro-companheiro, junto às bases de seu
partido. Também nada sabia do escândalo do mensalão e da roubalheira na
Petrobras. Não há como as oposições deixarem de explorar esses fatos na
campanha pelas prefeituras, ano que vem, e nas eleições gerais de 2018.
