Por ALBERTO DINES - Via Observatório da Imprensa -
Indócil,
impaciente, a sociedade brasileira é incapaz de resignar-se aos apertos e
carências. Insuficientemente treinada para as inevitáveis tardanças do
jogo democrático, traduz a bizantina discussão sobre o impeachment como
autorização para berrar o sumário “Fora Dilma".
Adoidadas, irracionais, diferentes
forças políticas empenham-se em enfraquecer o governo sem perceber que
ao mesmo tempo ferem e debilitam o Estado. Há momentos em que os dois
entes se superpõem e se confundem, sobretudo quando a crise – ou as
crises – espraiam-se em diferentes esferas, interagem e se realimentam. É
o que acontece agora. E quem não concorda com o diagnóstico vai dançar
no baile da Ilha Fiscal.
A tremenda tensão política por conta dos escândalos na Petrobras,
somada à inédita e demorada disputa institucional entre Executivo e
Legislativo (com perigosos desdobramentos nas áreas vizinhas), exacerbam
as péssimas condições da economia. Como se não bastassem tais
beligerâncias, vem das ruas uma persistente inquietação. Com a agravante
de que nos últimos tempos os sinais de instabilidade eram atalhados por
medidas de emergência – geralmente cosméticas e deletérias – que, desta
vez, não poderão ser adotadas. O controle da inflação e a retomada do
crescimento levarão tempo para materializar-se e devem produzir
desconfortos. Significa que, no curto prazo, aumentará a sobrecarga das
pulsões negativas e o agravamento do estresse.
Indócil, impaciente, sem qualquer traço de estoicismo, a sociedade
brasileira é incapaz de resignar-se aos apertos e carências.
Insuficientemente treinada para as inevitáveis tardanças do jogo
democrático, traduz a bizantina discussão sobre o impeachment como
autorização para berrar o sumário “Fora Dilma”.
Jogo rasteiro
Nesta demoníaca simplificação, com apenas quatro sílabas e nove
letras imantam-se os desgastes do governo e do Estado. Os contestadores
da presidente, nas oposições ou infiltrados na base aliada, não
perceberam ou fingem não perceber a extensão da ruptura que pretendem
provocar. Querem um terremoto e esquecem o indefectível tsunami que o
sucede.
A alucinada busca de justificativas para iniciar o processo de
impeachment (agora é a recusa do Tribunal de Contas da União em aprovar
as contas do primeiro mandato da presidente) cria uma dinâmica
irreversível. Estão brincando com fogo. E com fogo não se brinca quando
falta água.
Também os comandados por Dilma Rousseff, cegos pelo desespero e
incapacitados de avaliar a mortífera capacidade de retorno dos
bumerangues, assumem riscos suicidas. Na vã esperança de travar a
operação Lava Jato, ao estimular a disputa entre o Ministério Público e a
Polícia Federal fomenta-se irremediavelmente o ânimo dos movimentos de
protesto oferecendo pretextos concretos para uma mudança de patamar.
Equivale a oferecer isqueiros aos portadores de bananas de dinamite.
Estão brincando com fogo: as redes sociais são gigantescos espaços de
lazer e entretenimento que, rapidamente, transformam-se em campos de
batalha onde qualquer faísca vira labareda e qualquer fagulha significa
incêndio.
Uma imprensa firme e convicta é capaz apagar esses focos virais de
exaltação e incandescência. Desde que esteja firme e convictamente
empenhada em preservar setores vitais do Estado e vencer a tentação de
provocar novos abalos no governo.
Esta é a hora da maioridade cívica, cidadã. Hora de cessar o jogo
político habitual, rasteiro, e iniciar a partida decisiva – aquela que
não pode ter vencidos nem vencedores.
