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As quatro famílias da imprensa brasileira, os Frias, Mesquita, Civita e Marinho, afinaram a estratégia para tentar derrubar a presidente Dilma Rousseff; como não há nenhuma denúncia de corrupção contra ela, o pretexto para o golpe são as chamadas "pedaladas fiscais", como se 54 milhões de votos pudessem ser anulados por uma questão meramente contábil; essa ofensiva ocorre no momento em que os grupos de mídia passam pela maior crise financeira de sua história, que não é apenas conjuntural, mas também estrutural, em razão da migração do papel para a era digital; nesse cenário, fica a questão: as famílias midiáticas são movidas por interesses nacionais ou particulares? Querem a responsabilidade fiscal ou apenas sonham com um melhor acesso a verbas públicas e com a restauração do antigo status quo?
O jornal Folha de S. Paulo, dirigido
por Otávio Frias Filho, assumiu, neste domingo, sua adesão ao
impeachment da presidente Dilma Rousseff, no editorial "Sem passo atrás"
(leia mais aqui).
O motivo: as chamadas "pedaladas fiscais", condenadas pelo Tribunal de
Contas da União. "O tribunal também poderá recomendar ao Congresso a
rejeição das contas do governo Dilma, o que seria inédito e permitiria,
em tese, a abertura de processo de impeachment contra a presidente", diz
o texto dos Frias.
Também neste domingo, o jornal
Estado de S. Paulo, da família Mesquita, defendeu o golpe sob o mesmo
argumento, no editorial "TCU põe governo contra a parede". No texto, o
jornal dirigido por Francisco Mesquita Neto defende que o senador Aécio
Neves (PSDB-MG) vá às últimas consequências em sua sanha golpista.
No Globo, quem, muitas vezes, fala
pelos Marinho é o colunista Merval Pereira. Embora mais cauteloso,
também centrou fogo na questão fiscal. "A questão do TCU pode
tecnicamente embasar um pedido de impeachment hoje, mas ainda precisa de
mais elementos para ser um processo fechado. É preciso dar os prazos
todos para o processo, ter provas concretas, mas ainda não há isso; não
há ainda nenhuma denúncia direta contra a Dilma", disse ele.
Em Veja, comandada por Giancarlo
Civita, derrubar governos trabalhistas sempre foi e sempre será
defensável, qualquer que seja o motivo.
A escolha dos grupos de mídia pela
questão fiscal, no entanto, se dá por puro pragmatismo. Como não há nem
haverá qualquer denúncia que associe a presidente Dilma Rousseff a
escândalos de corrupção, o pretexto encontrado foi um mero ajuste
fiscal, que, segundo o ministro José Eduardo Cardozo, da Justiça, é
prática recorrente desde 2001 – ou seja, desde o governo FHC.
Interesse público ou privado?
Para um país que acabou de sair de
uma eleição, chega a ser espantoso que um detalhe contábil possa servir
de pretexto para anular 54 milhões de votos. Ou seja: em tempos normais,
dificilmente grupos de comunicação abraçariam um golpe por uma razão
tão banal, do ponto de vista político.
O Brasil, no entanto, vive dias
atípicos, numa histeria coletiva que é potencializada pela crise dos
meios de comunicação. Neste mês de abril, o jornal Estado de S. Paulo
anunciou 120 demissões. A Folha veio, em seguida, com o corte de 50
profissionais. Por último, foi a vez de Veja demitir 40 pessoas e
anunciar o fechamento de dois suplementos.
A crise da mídia impressa é
consequência direta da migração do leitor da informação em papel para
plataformas digitais – o que provoca a fuga de anunciantes públicos e
privados ou, no mínimo, a revisão dos valores dos patrocínios.
Nesse cenário conturbado, fica a
questão: as famílias midiáticas são movidas por interesses nacionais ou
particulares? Querem a mesmo a aplicação da Lei de Responsabilidade
Fiscal ou apenas sonham com um melhor acesso a verbas públicas e com a
restauração do antigo status quo?
