CARLOS CHAGAS -
Triste mesmo foi a decisão da presidente Dilma de não se pronunciar
por ocasião do Dia do Trabalhador, através de cadeia de rádio e
televisão. Madame seguiu o conselho de pelo menos dez ministros, além do
Lula. Todos entenderam que haveria reação por parte da população. No
caso, mais um panelaço. Sendo assim, melhor esconder-se.
A gente pergunta o que acontecerá se a moda pegar. A presidente vai
sumir a partir de agora, por medo de um bater de panelas? Governantes
fujões sempre podem ser identificados, através da História, geralmente
para evitar golpes e revoluções, até para salvar a própria vida. Mas
para evitar uma democrática e ruidosa manifestação não há registro, pelo
menos no Brasil. Vaias costumam ser rotineiras, entre nós. Haverá que
conviver com expressões de descontentamento, para quem optou pela vida
pública.
Tempo ainda há, no caso dois dias, para Dilma rever o vexame, apesar
de já ter sido anunciado pelo ministério da Comunicação Social.
Outra indagação refere-se ao trabalhador, que se começa a utilizar
telefones celulares, só rarissimamente pode dar-se ao luxo de assinar a
Internet. Assim, a mensagem que a presidente pretende divulgar pelas
redes sociais não atingirá o alvo. Humilhados e ofendidos estão os
milhões que vivem do salário mínimo. Também os assalariados que recebem
pouco mais.
Quando se recorda estar no governo o Partido dos Trabalhadores, a conclusão é de não ser partido, muito menos dos trabalhadores.
Uma dúvida que fica refere-se aos conselheiros da omissão. Que
ministros tenham sugerido à presidente ficar calada, senão justifica,
explica-se: quiseram poupar-se dos respingos do panelaço. Agora, ter o
Lula também se pronunciado pelo silêncio da sucessora, não dá para
entender. Se não é, já foi trabalhador. Como torneiro-mecânico, quantas
vezes celebrou o dia de seus companheiros? Como presidente da República,
por oito anos, jamais deixou de dirigir-se à categoria. Estaria
pensando em recomendar a Dilma discursar no Dia do Empreiteiro?
NERVOS À FLOR DA PELE
Eduardo Cunha e Renan Calheiros não tinham motivo para
engalfinhar-se, cavando trincheiras no Congresso. Afinal, o projeto da
terceirização é apenas mais um, de longa trajetória.
Há quem suponha outras razões para o entrevero. Os presidentes da
Câmara e do Senado integraram a lista do Procurador Geral da República,
como parlamentares agora submetidos a inquérito judicial pelo Supremo
Tribunal Federal. São suspeitos de envolvimento no escândalo da
Petrobras. Se culpados ou inocentes, saberemos mais tarde, mas é óbvio
que o desconforto leva seus nervos à flor da pele.
