CARLOS CHAGAS -
A informação é de que Dilma ainda não decidiu, mas o simples fato de
estar hesitante configura um vexame. Pior do que o dela, outro, encenado
pelos ministros palacianos, que sugeriram à presidente não se
pronunciar em cadeia de rádio e televisão pela passagem do primeiro dia
de maio. Motivo: evitar mais um panelaço.
A tradição vem de décadas: os presidentes congratulam-se com os
trabalhadores, no dia a eles dedicado e, não raro, anunciam medidas
destinadas a minorar-lhes as agruras. Um gesto de respeito e até de
carinho, acima de tudo.
Pois não é que Madame está sendo aconselhada a esconder-se? Aceitar semelhante despropósito equivale a renunciar não apenas aos seus deveres, mas demonstrar medo. Continuando as coisas como vão, se consumar-se essa ausência, logo teremos uma presidente secreta, como nos tempos dos decretos-secretos do regime militar. Saberemos estar ela nos seus palácios, mas escondida. Temerosa de mostrar-se e, em especial, de enfrentar manifestações de rejeição. Estivesse a poucos dias do término de seu mandato e ainda se admitiria a omissão. Mas com quase quatro anos de governo, qual a conclusão a tirar?
Tomara que o bom senso venha a prevalecer, ainda mais porque não se
pronunciará em praça pública, mas fechada num estúdio improvisado em seu
gabinete de trabalho. Ela nem ouvirá o bater de panelas, já que sua
cozinheira não ousaria tanto.
Trata-se de uma decisão a tomar, capaz de pautar por muito tempo o
comportamento da presidente Dilma. Se disposta a enfrentar a
impopularidade, estará dando sinais de pretender virar o jogo,
recuperar-se e seguir na plenitude de suas prerrogativas. Omitindo-se,
dará não apenas amplo sinal de fraqueza, mas estimulará os sentimentos
daqueles que pretendem vê-la pelas costas.
COVARDIA
A gente fica pensando como existem auxiliares, ainda mais ministros,
recomendando a covardia. Estariam eles preocupados com o próprio futuro?
Ao ouvir essa triste sugestão daqueles que deveriam estimulá-la a
reagir, bem que a presidente poderia seguir o exemplo de Tancredo Neves.
No início de seu lançamento como candidato presidencial, numa das
reuniões com assessores, ele foi-se irritando com tantos comentários
favoráveis ao seu adversário, Paulo Maluf. Diziam ser impossível
vencê-lo no Colégio Eleitoral, supostamente comprado. Também alegavam a
lei da fidelidade partidária, que a Justiça anularia os votos dos
dissidentes do PDS dispostos a sufragá-lo. Mais ainda, que os militares
apoiavam Maluf e não deixariam que tomasse posse, na hipótese quase
impossível de sua vitória. Por último, comparavam a vitalidade do
candidato oposto, percorrendo o país e espalhando otimismo, diante de um
oponente de 74 anos.
Tancredo chegou ao limite da indignação. Levantou-se, abriu a porta e
determinou ao seu comando de campanha: “Podem ir embora! Vão logo
aderir ao Maluf!”
Tivesse a presidente Dilma desabafado assim diante de seus ministros e talvez despertasse neles um pouco de pudor…
