Por ALBERTO DINES -Via Observatório da Imprensa -
Na bolsa de apostas do mercado e no
habitual frufru da mídia, a indicação de Aldemir Bendine para substituir
Graça Foster no comando da Petrobras foi considerado mais um dos
brutais erros cometidos pessoalmente pela presidente Dilma no fim do
primeiro mês do segundo mandato.
Escolha pessoal, contrariando a todos, inclusive ao presidente
emérito, Lula da Silva. Acusações de favorecimento a uma pessoa de suas
relações quando presidia o Banco do Brasil e a multa paga à Receita
Federal obliteraram, como sempre acontece em ambientes propensos à
satanização, um currículo de acertos estratégicos e políticos.
Ninguém lembrou – ou, se lembrou, foi com meia-boca – a prodigiosa
façanha de Bendine, em maio de 2013, de criar num banco público uma
subsidiária privada – a BB Seguridade – sem as amarras dos controles
estatais. A operação permitiu levantar na oferta pública de ações quase
12 bilhões de reais, inesperado reforço no capital do banco e
considerada a maior abertura de capital de uma empresa no país.
O sisudo Bendine – Dida para os íntimos – foi nomeado em 6 de
fevereiro e apenas 77 dias depois conseguiu superar um atraso de cinco
meses e presentar os resultados devidamente auditados do balanço da
petroleira referente ao último trimestre e todo o ano de 2014. Admitiu e
contabilizou a corrupção (mesmo que insuficientemente), somou os
desvios, reconheceu desastrosas opções políticas privilegiando a
incompetência e permitiu-se confessar num governo edificado sobre a
onipotência e infalibilidade que aqueles números eram “uma vergonha”.
Fórmula 2T
No outro lado do mundo, em Madri, o vice-presidente Michel Temer,
impregnado pela atmosfera de humildade, abandonou seu jargão empolado e
comentou, coloquial: “Pegar bem, não pegou”. Claro, os números são
penosos, o retrato dos vícios da sociedade brasileira ficou ainda mais
visível.
Porém, a resposta dos mercados tem sido positiva. O mercado respeita
regras – ainda que frequentemente mostre-se refratário a regulações – e
Bendine fez tudo “nos conformes”: junto com o balanço “deu a cara” em
extensa entrevista à imprensa, dia seguinte foi adiante oferecendo ao
mercado financeiro as necessárias explicações e logo garantiu que
manterá o estilo “formiguinha”, o que pressupõe o desligamento dos
holofotes e dos dogmas ideológicos.
O descalabro não foi superado, o estrago produzido pelo aparelhamento
da empresa-símbolo não foi reparado – longe disso –, mas o inesperado
surto de transparência espantou fantasmas reincidentes e desintoxicou o
clima apocalíptico iniciado em seguida ao início do segundo mandato.
As faixas e os cartazes do “Fora Dilma” foram subitamente baixados, a
aposta solitária da presidente no tecnocrata pragmático e prudente
fortaleceu-a. Junto com a escolha do filósofo Renato Janine Ribeiro para
consolidar o projeto da “Pátria Educadora”, Dilma Rousseff – que
começava a ficar com a imagem de “pé frio” ou, pior, “dedo podre” –
ganha, literalmente, nova silhueta: mais magra, mais desenvolta, pode
enfrentar com mais jogo de cintura e serenidade a avalanche de acusações
que fatalmente surgirão no decorrer dos processos da Operação Lava Jato
a respeito de um prévio conhecimento do mar de lama que entupia os
dutos da Petrobras.
Quanto mais efetivo o trabalho de saneamento da petroleira, mais
enfraquecida ficará a dupla de verdugos que a atormentam, os donos do
pedaço Legislativo, Renan Calheiros e Eduardo Cunha. Respingados na
primeira rodada do ventilador do Ministério Público Federal passarão a
ter mais cuidado ao lidar com uma parceira-adversária tão matreira
quanto eles.
A fórmula 2T – transparência e temperança – poderá nos levar sem
turbulências às vésperas de 2018. Sobretudo quando se tem a coragem de
apostar em azarões.
