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Denúncia apresentada pela entidade de classe sustenta que Agustín
Edwards, proprietário do 'El Mercurio', um dos maiores do país, violou
código de ética.
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| Agustín Edwards, 87 anos / Foto: Reprodução/Colegio de Periodistas de Chile. |
A associação chilena de jornalistas decidiu expulsar da entidade Agustín Edwards Eastman, dono do jornal El Mercurio e
de uma série de outros títulos periódicos, por considerar que sua
atuação à frente do grupo de mídia “violou disposições do código de
ética jornalística”.
Uma das acusações feitas pelo Colégio de Jornalistas do Chile afirma
que Edwards, 87, recebeu dinheiro da CIA (agência de inteligência dos
EUA) para empreender uma campanha de desestabilização do governo do
presidente socialista Salvador Allende, deposto por um golpe de Estado
em 1973. A investigação contra Edwards, dono de um dos maiores
conglomerados de mídia do país, teve início em 2014, quando a entidade
apresentou uma denúncia baseada em documentos secretos tornados públicos
nos Estados Unidos.
De acordo com a denúncia apresentada pela associação,
nos papéis norte-americanos “Edwards Eastman aparece como jornalista e
dono da empresa El Mercurio SAP, colaborando em ações da CIA e obtendo
fundos” do governo Richard Nixon para “sustentar uma política editorial
de desinformação e, desse modo, contribuir para soterrar a democracia e
facilitar o golpe de Estado” contra Allende.
Ambos Edwards e o
veículo que chefia não quiseram se pronunciar sobre a decisão da
associação, tomada na última terça-feira (21/04). Em outubro de 2013,
quando ainda estava em curso a investigação, a defesa do empresário
havia negado perante o juiz ter recebido qualquer quantia em dinheiro da
CIA. Na ocasião, afirmara ainda que não estava no Chile no período e
que, portanto, não teve interferência nas decisões editoriais de El Mercurio.
A
defesa de Edwards tem dez dias para apresentar uma apelação — período
durante o qual uma das advogadas do jornal, Natalia González Bañados,
afirmou que o veículo não comentará o episódio.
A entidade ainda afirma que: “O jornal El Mercurio,
de propriedade de Agustín Edwards, aprovou as atuações da ditadura
militar, incluindo informações não verificadas que acabaram por encobrir
graves violações aos direitos humanos”.
O conglomerado midiático do qual Agustín Edwards é proprietário é um
dos mais poderosos e antigos do Chile. O grupo possui diversos títulos
periódicos, de circulação regional e nacional. O El Mercurio faz
parte ainda da GDA (Grupo de Diários da América), entidade de classe
que reúne outros jornais de grande importância na região, como: La Nación (Argentina), El Comercio(Ecuador), O Globo (Brasil), El Tiempo (Colombia), El Universal (México), El Comercio (Perú), El País (Uruguay) y El Nacional (Venezuela).
“Montagem jornalística”
Contra
Edwards e seu veículo também pesa uma segunda acusação de violar o
código de ética jornalístico, no episódio da cobertura jornalística de
violência policial perpetrada pelas forças de seguranças chilenas no
Parque O’Higgins, em Santiago, durante a visita do papa João Paulo II ao
Chile, em abril de 1987 — final da ditadura Augusto Pinochet
(1973-1990).
De acordo com a acusação, a cobertura de El Mercurio —
que “se prestou a fazer uma montagem jornalística” — legitimou a
posterior perseguição de dois estudantes universitários pela repressão
política chilena. Na ocasião, na primeira página do jornal, foi
estampada as fotografias dos dois rapazes, identificados como
“violadores do Partido Comunista”, numa circustância em que ambos eram
inocentes.
