Por RAFAEL STEDILE - Via Brasil de Fato -
O aniversário de 50 anos da Rede Globo será
“descomemorado” por movimentos sociais, sindicatos, coletivos de
juventude e mídia alternativa. Na semana do dia 26 de abril, uma série
de atos e debates por todo o país irão questionar o papel da empresa na
história política do Brasil, as suspeitas de sonegação de seus impostos e
a barreira que ela impõe para a democratização da comunicação.
No
manifesto “50 anos da TV Globo: vamos descomemorar!”, as entidades
afirmam que o grupo midiático atuou no apoio à ditadura militar - e foi
beneficiada por isso -, e “na fase recente, a TV Globo militou contra
todo e qualquer avanço mais progressista, atuando na desestabilização
dos governos que não rezam integralmente a sua cartilha. Nas marchas de
março desse ano, ela ajudou a mobilizar o anseio golpista e garantiu a
ele todos seus holofotes”.
Estão entre as
organizações que assinam o manifesto o Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST), o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), a
Central Única dos Trabalhadores (CUT), a União Nacional dos Estudantes
(UNE), o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), o
Centro de Estudos Barão de Itararé, o Fora do Eixo e o Brasil de Fato.
Em São Paulo uma manifestação está programada para o dia 26, domingo, às 15h, com concentração na Praça General Gentil Falcão. Um evento no Facebook
foi criado para convocar as pessoas para a ação, chamado “ATO FORA
GLOBO - 50 anos de mentira!”. Na mesma data, acontecerá o ato de Porto
Alegre, a partir das 14h, nos Arcos da Redenção. O evento que convoca a ação no Facebook é o “FORA GLOBO/RBS! A festa acabou: 50 anos de mentira!”.
Detenção em protesto
Na
última terça-feira (14), um protesto na Câmara dos Deputados, em sessão
solene que homenageava os 50 anos da Rede Globo, terminou com a
detenção do repórter do Brasil de Fato Pedro Rafael Vilela, além de
outras duas pessoas. De acordo com o jornalista, “o objetivo [da ação]
era estender, silenciosamente, uma faixa que dizia ‘A verdade é dura, a
Rede Globo apoiou a ditadura’. É necessário ‘descomemorar’ o aniversário
da Globo, pois ela beneficiou o regime militar e se beneficiou dele,
representante hoje a concentração de riqueza e de poder”.
Vilela,
que também é integrante do Fórum Nacional pela Democratização da
Comunicação, explicou: “Não queremos o fim da Rede Globo. Queremos
pluralidade de ideias e diversidade da mídia, além de políticas públicas
que incentivem e não criminalizem as mídias livres e comunitárias”.
Leia na íntegra o manifesto:
50 ANOS DA TV GLOBO: VAMOS DESCOMEMORAR!
A
TV Globo festejará os seus 50 anos de existência no dia 26 de abril.
Serão promovidos megaeventos e lançados vários produtos comemorativos.
No mesmo período, porém, muita gente está disposta a promover a
“descomemoração” do aniversário do império global, um ato de repúdio ao
papel nocivo desse grupo de mídia na história do país. Uma
palavra-de-ordem que se destaca em todo o Brasil em manifestações
recentes é: “O povo não é bobo. Fora Rede Globo”. E motivos não faltam
para esta revolta.
A emissora é filha
bastarda do golpe militar de 1964. O então diretor do jornal “O Globo”
Roberto Marinho foi um dos principais incentivadores da deposição do
presidente João Goulart, dando sustentação ideológica à ação das Forças
Armadas. Um ano depois, foi fundada a sua emissora de televisão, que
ganhou as graças dos ditadores. O império foi construído com incentivos
públicos, isenções fiscais e outras mutretas. Os concorrentes no setor
foram alijados, apesar do falso discurso global sobre o livre mercado.
Nascida
da costela da ditadura, a TV Globo tem um DNA golpista. Apoiou
abertamente as prisões, torturas e assassinatos de inúmeros lutadores
patriotas e democratas que combateram o regime autoritário. Fez de tudo
para salvar o regime dos ditadores, inclusive omitindo a jornada das
Diretas Já na década de 80. Com a democratização do país, ela atuou para
eleger seus candidatos – os falsos “caçadores de marajás” e os
convertidos “príncipes neoliberais”. Na fase recente, a TV Globo militou
contra toda e qualquer avanço mais progressista, atuando na
desestabilização dos governos que não rezam integralmente a sua
cartilha. Nas marchas de março desse ano, ela ajudou a mobilizar o
anseio golpista e garantiu a ele todos seus holofotes.
A
revolta contra a Globo que ganha corpo está ligada também à postura
sempre autoritária diante dos movimentos sociais brasileiros. As lutas
dos trabalhadores ou não são notícia na telinha ou são duramente
criminalizadas. A emissora nunca escondeu o seu ódio ao sindicalismo, às
lutas da juventude, aos movimentos dos sem-terra e dos sem-teto.
Através da sua programação, não é nada raro ver a naturalização e o
reforço ao ódio e ao preconceito. Esse clima de controle e censura
oprime jornalistas, radialistas e demais trabalhadores da empresa, que
são subjugados por uma linha editorial que impede, na prática, o
exercício do bom jornalismo, servidor do interesse público, em vez da
submissão à ânsia de poder de grupos privados.
Além
da sua linha editorial golpista e autoritária, a Rede Globo – que adora
criminalizar a política e posar de paladina da ética – está envolvida
em inúmeros casos suspeitos. Até hoje, ela não mostrou o Darf (Documento
de Arrecadação de Receitas Federais) do pagamento dos seus impostos, o
que só reforça a suspeita da bilionária sonegação da empresa na compra
dos direitos de transmissão da Copa do Mundo de 2002. A falta de
transparência do império em inúmeros negócios é total. Ela prega o
chamado “Estado mínimo”, mas vive mamando nos cofres públicos, seja
através dos recursos milionários da publicidade oficial ou de outros
expedientes mais sinistros.
Essas e
outras razões explicam o forte desejo de manifestar o repúdio à TV
Globo em seu aniversário de 50 anos. Assim, vamos realizar em torno do
dia 26 de abril uma série de manifestações, em todo o país, para
denunciar a emissora como golpista ontem e hoje; exigir a comprovação do
pagamento de seus impostos; e reforçar a luta por uma mídia democrática
no Brasil.
Sem enfrentar o poder e colocar
limites à maior emissora do Brasil – e uma das cinco maiores do mundo –
não será possível garantir a regulamentação dos artigos da Constituição
que proíbem o monopólio para levar a cabo a democratização do país. Por
isso, vamos às ruas contra a Globo e convidamos todos os brasileiros
comprometidos com a democracia, a liberdade de expressão, a cultura
nacional, o jornalismo livre e a soberania popular a participar das
manifestações em todo o país.
*Diversas entidades já assinaram o manifesto, para aderir envie o nome da sua entidade para contato@baraodeitarare.org.br



