23.1.19

BOLSONARO ESTREIA EM DAVOS COM DISCURSO SOFRIDO, DIFÍCIL, MONÓTONO, RETROCESSO PURO

HELIO FERNANDES -


Nos bastidores, o que é comum nos grandes fóruns, todos queriam saber quanto tempo falaria. Da delegação, informaram, "de 35 a 45 minutos". Falou 8, que pela falta de conteúdo, é rigorosamente exagerado. Desinformado, concluiu: "A esquerda não prevalecerá na America Latina". E informou nesse capitulo: "conversei com Macri, presidente da Argentina, concordamos".

Transformou Macri num tratadista ideológico, ele está inteiramente preocupado "com a inflação, o FMI, a impopularidade". O mesmo caminho que Bolsonaro já está percorrendo, aparentemente sem perceber. Refugiou-se no combate "à violência e corrupção", o que justificava o fato de Moro estar presente em Davos. Apesar de no Brasil estar acumulando ha 20 dias, (desde que tomou posse) derrotas nos 2 setores.

Ainda não se sabe se Moro discursará. Mas Davos só quer ouvir Paulo Guedes. Quando o ministro múltiplo, deixou entrever, "tenho 400 estatais para privatizar", Davos ressurgiu como fórum econômico. E o próprio Guedes lembrou de sua primeira afirmação como ministro convidado: "Posso conseguir 800 BILHÕES vendendo essas estatais".

Isso deve ser um "achado", pode acreditar numa realidade promissora. O obstáculo pode ser o próprio Bolsonaro, e as metas que sobraram do seu palavreado primário. Ele apresentou como programa de CRESCIMENTO e DESENVOLVMENTO, "o incentivo à agricultura e ao agronegócio".

Exatamente o que Rui Barbosa condenava ha mais de 100 anos no discurso de posse como ministro da  Fazenda. Textual: "O Brasil tem que deixar de ser chamado de "País ESSENCIALMENTE AGRÍCOLA". Ao contrário do mundo todo, que depois de 1780, com a Revolução Industrial de Manchester, se industrializou completamente".

Aí, o estadista brasileiro, fulminou os "barões do café" que ficaram apavorados. Mas não modificaram a política agrícola e continuaram enriquecendo individualmente com o café, e empobrecendo e atrasando o Brasil. Rui foi por esse caminho até que 30 anos depois, o Brasil começou a se industrializar. Mas equivocadamente.

Agora, o Presidente Bolsonaro acena com mais privilégios que favorecem grupos já privilegiados. Sempre. É lógico que não temos que abandonar a agricultura e o agronegócio. Mas esse favorecimento prejudica e abandona setores importantíssimos. Como ferrovias, infraestrutura, e setores que criam e podem criar milhões de empregos. Sem esquecer a agricultura familiar, altamente progressista, criadora de independência financeira.

Eu não tenho a pretensão de acreditar que Bolsonaro leu Rui Barbosa. Mas pelo menos, por vias transversas, tomou conhecimento dos resultados do ensinamento do maior e mais exaltado brasileiro, mesmo depois de 100 anos da sua morte.

PS: Como eu disse no início e reafirmo agora no final, em Davos só existe um personagem brasileiro, para quem todos os empresários e economistas de Davos olham com inveja: Paulo Guedes.

PS2: Vamos esperar que ele fique mais tempo conversando com os empresários estrangeiros, e negocie as 400 estatais deficitárias, que arruínam a economia e o orçamento do País.