SEBASTIÃO NERY -
Rio de Janeiro – Ninguém me contou. Eu vi. Durante dois anos, em 1990
e 1991, como Adido Cultural, acompanhei dia a dia, em Roma e na Sicilia, a
guerra da Máfia contra a Justiça italiana que comandou a Operação “Mani Puliti”
(Mãos Limpas”). A poderosa e assassina Máfia, com séculos de organização e
crimes, totalmente entranhada na sociedade italiana, a começar por setores da
Igreja Católica e dos partidos políticos – a DCI (Democracia Cristã) e os
Partidos Socialista e Comunista – caiu em cima dos valentes procuradores e
juízes imaginando intimida-los e
cala-os.
Começaram matando o juiz Giovanni Falcone e ameaçando o procurador Antonio di
Pietro. Não adiantou. Houve mais de 6 mil presos, centenas de condenados, uma
dezena da suicídios.Os porta-vozes da Máfia alegavam que a Operação não fez
tudo, pois Berlusconi, saído da Máfia, assumiu o governo. Mas perdeu e a Itália
nunca mais foi a mesma.
Sábado, aqui no Brasil,
vimos um espetáculo da nossa Máfia. Em manchete da pagina A14, a “Folha de S.
Paulo” denunciou:
– “Defesa de Lula Quer Que
Moro (o juiz Sergio Moro, da Operação Lava-Jato) Seja Preso por Abuso de
Autoridade – Para Advogados, Juiz Federal Extrapolou ao Determinar a Condução
Coercitiva de Lula”.
A tática da Máfia italiana
era sempre a mesma: os criminosos ameaçando prender quem os denunciava. O
Brasil, depois de dois anos da Operação-Lava-Jato, já distingue de sobra quem
são os bandidos e os que os combatem, os bravos procuradores do honrado juiz
Sergio Moro.
A esse grupo de incansáveis
servidores do Judiciário o pais deve um aplauso permanente, vigilante. É um
escárnio ver Lula, contumaz enganador publico da nossa Máfia, dizer que vai
processar o juiz Sergio Moro. O economista Helio Duque, três vezes
deputado do PMDB do Paraná, plantonista da Pátria, está indignado. O espírito
suicida de Jim Jones paira sobre o Congresso Nacional. Ele foi o criador, nos
EUA, de uma seita, em 1974, dizendo-se perseguido pelo FBI. Obteve do governo
da Guiana grande área de terra. Na região amazônica fundou a comunidade
Jonestown. Em 1978, muitos dos seus seguidores queriam abandonar a região.
Reuniu os fiéis em demoníaca confraternização, servindo um ponche de frutas
misturado com veneno. No suicídio coletivo 918 pessoas morreram e o pregador
fanático deu um tiro na cabeça.
Ao admitirem anistia ampla
para o caixa 2, setores do Congresso seguem Jim Jones. Querem incluir no pacote
anticorrupção, em tramitação na Câmara, emenda que anistiaria o caixa 2 antes
da nova lei. A primeira tentativa foi em setembro. Na calada da noite, apareceu
proposta de autor desconhecido pugnando pela anistia da corrupção. A denúncia
do deputado Miro Teixeira impediu. Agora, os defensores da impunidade unificam
governistas e oposicionistas para anistiar os caixas 2 e 3. As doações ilícitas
não podem merecer o indulto. Defendem a criminalização para o futuro isentando
o passado, alegando que estão fortalecendo a democracia. A urgência de se
aprovar uma nova legislação tem endereço certo: futuras delações atingiriam
centenas de investidos de mandatos.
Imaginam seus autores que a
sociedade não se mobilizará ante a imoralidade? A ministra Cármen Lúcia,
presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) considera que caixa 2 é crime.
Está no artigo 350 do Código Eleitoral, com pena de prisão de 5 anos, como
delito de falsidade ideológica. Já a Lei 8.137/1990 diz que é crime contra a
ordem tributária.
Definindo: caixa 2 é
crime. Querer misturar caixa 1 com caixa 2 é ato indecoroso. Uma decorre de
doações legais para campanhas declaradas à Justiça Eleitoral, não sendo ilegal.
A segunda é decorrência de transações corruptas envolvendo governos, partidos,
grandes corporações.
E o caixa 3 é ainda pior,
mais imoral. É a corrupção continuada para financiamento de esquemas paralelos
de poder. A Petrobrás foi vítima do caixa 3, envolvendo servidores e empresários,
agora apontados como réus, muitos com prisão e anos de reclusão, com devolução
de valores gerados na corrupção. A “propina”, o “pixuleco” é a essência do
caixa 3.



