13.10.16

CRISE NA SEGURANÇA DO RJ: BELTRAME PEDE PRA SAIR. ESTADO NÃO TEM DINHEIRO PARA PAGAR POLICIAIS

ALCYR CAVALCANTI -

A crise da segurança no Estado do Rio de Janeiro acelerada com os pedidos de demissão do Secretário José Mariano Beltrame e do Chefe de Policia Fernando Veloso, ambos em rota de colisão com o governador e agravada pelo estado de calamidade que assolou um dos estados mais prósperos do Brasil. Desde seu inicio a política de segurança baseada no Projeto de Pacificação das UPPS esteva ancorada em conceitos discutíveis e não adaptados à nossa realidade. De fato a política era baseada em um eixo principal, o ataque à violência que estaria somente enquistada nas favelas.


As favelas  seriam a fonte de todos os males, bastaria isolar as favelas através de um "cinturão de segurança cirúrgico" para que a violência terminasse, conceito antigo mas persistente, amplamente contestado pela antropóloga Janice Perlman em sua obra  "O Mito da Marginalidade". Mas a realidade é bem outra, a violência é um fenômeno difuso espalhado por todas as grandes cidades e não é em nosso caso culpa exclusiva do narcotráfico, um fenômeno global perfeitamente inserido na economia de mercado, com altas taxas de lucro. As UPPS parecem ter vindo somente para acalmar a bandidagem e tentar convencer os milhões de turistas que viriam para os megaeventos a Visita do Papa, Copa do Mundo e Jogos Olímpicos num "Cerco Cirúrgico às Zonas Vermelhas", conceito baseado na Guerra Fria e adotado pela Escola Superior de Guerra-ESG difundido no estado pelo ex-secretário de segurança Nilton Albuquerque Cerqueira nos anos oitenta.  O projeto mesmo nas favelas ocupadas não teve o êxito esperado. A desconfiança com os novos "donos do morro" ou seja os PMs, na maior parte despreparados para a convivência diuturna com a população, em sua maioria trabalhadores ou pessoas à procura de trabalho sobrevivendo cada um à sua maneira, às vezes em pequenos serviços e biscates. O estranhamento entre policiais que ocupavam território e moradores chegou ao ponto crítico com o "Caso Amarildo" na Rocinha, a localidade de maior visibilidade não só pela sua localização estratégica e também pelo seu tamanho e população. Fica situada entre dois bairros nobres e no meio da ligação entre Gávea e Barra da Tijuca, um dos acessos à Zona Oeste através do Túnel Zuzu Angel. O desaparecimento do pedreiro Amarildo após torturas e morte foi mais um caso entre inúmeros casos devido a uma técnica de tortura empregada em alguns casos com o nome sugestivo de "Técnica de Investigação Intensiva", talvez intensiva demais. A ocupação pela PM sempre treinada para o combate, uma máquina de guerra preparada para o confronto, principalmente depois da criação de unidades especiais como o BOPE da Policia Militar e posteriormente da CORE da Policia Civil. Mas o setor de investigação que facilitaria o trabalho da segurança não aconteceu, e as melhorias prometidas também não vieram. Os sucessivos programas de crescimento, de ordem federal, PAC-1, PAC-2 e sua continuação PAC-3 tiveram pouca implantação, somente algumas melhorias foram feitas no primeiro programa e muitas nem sequer foram iniciadas, ficaram no papel, embora em alguns casos verbas tenham sido destinadas, mas por um mistério não foram empregadas.

A chamada UPP Social não saiu dos discursos em época de eleição, mesmo assim talvez por um ponto futuro, o prefeito da cidade Eduardo Paes recebeu prêmio em Medellin na Colômbia pelas qualidade de serviços em favelas e periferias urbanas, Muita propaganda e poucas realizações, as favelas continuam sem serviços básicos de saneamento, assistência médica, frentes de trabalho, aumento  de creches e escolas enfim continuam ao "Deus Dará".  O Chefe de Policia Fernando Veloso e o Secretário Beltrame ao pedirem demissão pouco tempo depois dos Jogos Para Olímpicos vieram trazer à tona a triste realidade, as UPPS vieram apenas para um controle visando os megaeventos, da mesma forma que a urbanização veio apenas no Centro da Cidade e em parte da Zona Oeste apenas para dar aos milhões de turistas que estão chegando à cidade maravilhosa uma impressão de paz e tranquilidade. Mas infelizmente (ou felizmente) algo sempre foge ao controle, a violência urbana, fenômeno de múltiplas causas explode em vários locais, de norte a sul, de leste a oeste e os recentes casos como o fechamento do comércio por ordens do narcotráfico e o assassinato de policiais pela bandidagem estão aí para comprovar a Crise da Segurança Pública não só na bela Cidade de São Sebastião, mas em todo O Estado do Rio de Janeiro.