Por JOSÉ
CARLOS DE ASSIS -
O editorial
pornográfico da Folha de S. Paulo divulgado neste domingo, propondo entre
outras aberrações cortes nos gastos orçamentários compulsórios com Previdência
Social, Educação e Saúde, ultrapassa qualquer limite em termos de
chantagem contra a Nação jamais praticada em nome das classes dominantes
brasileiras e de seus associados internacionais.
De fato, o
objetivo oculto por trás da obsessão do orçamento equilibrado é atender aos
interesses do setor bancário e financeiro à custa do suor e do sangue dos
brasileiros.
A Folha na
realidade está construindo as condições para a guerra civil no país. Ela prega
a ruptura não só da Constituição mas do que resta do pacto solidário construído
no Brasil desde a Era Vargas, e que resistiu inclusive à ditadura militar,
tendo sido consideravelmente ampliado na democracia. O editorial é o mais
descarado apelo ao retrocesso que as classes dominantes brasileiras jamais
tiveram a ousadia de propor. Não tem qualquer compromisso com os interesses
reais da população brasileira. É o enxovalhamento do povo.
Em grave
crise financeira, a Folha chutou o pau da barrada: perdido por um, pedido por
mil. Talvez acredite que um novo governo, qualquer que seja, trate
financeiramente a Grande Imprensa ainda melhor do que tem feito o atual. No seu
nível de irresponsabilidade, empurra milhões de pessoas para uma revolta contra
as instituições, mediante a sonegação de direitos básicos que pareciam
irreversíveis. Sabemos perfeitamente que uma guerra civil não começa como
guerra civil. Começa com um estado de pré-convulsão social, do tipo instigado
pela Folha, vai para a convulsão, depois para os atentados, depois para a
guerrilha. Só depois vem a guerra. E é quando os militares entram para por
ordem na casa, a seu modo!
Diante desse
ataque da direita radical empreendido pela Folha, e em face do derretimento das
instituições do Estado que ela expõe, o desafio que se coloca às forças
progressistas é buscar formas concretas de fortalecer o estado solidário na
base da sociedade, juntando as forças do empresariado industrial autêntico, não
picareta, com as forças organizadas dos trabalhadores. O grande lance é a
construção de pacto social negociado diretamente entre essas classes, e
cujas proposições concretas sejam levadas ao Governo para aplicação em
alternativa ao sistema vigente de total subserviência ao rentismo não
produtivo.
Em termos
teóricos, nosso desafio é fazer a revolução burguesa-industrial e a revolução
social simultaneamente. A revolução burguesa, sim, porque o sistema atual coloca
a indústria como escrava de um sistema financeiro de agiotagem que estrangula a
capacidade de investimento, inovação e expansão do setor industrial privado. A
revolução social porque, se voltarmos ao crescimento econômico, o que é
perfeitamente possível, podemos não só defender como expandir o estado de bem
estar social como base da estabilidade social e política do país.
O editorial
da Folha é um acinte porque coloca a perspectiva de uma tragédia quando temos
alternativas promissoras à mão. É uma estupidez econômica achar que temos de
fazer superávit primário ou evitar níveis mesmo baixos de déficit. As economias
norte-americana, inglesa e japonesa vivem de déficits desde 2008. A
norte-americana teve déficits gigantescos de 2009 ao ano passado (até 10% do
PIB), do que resultou uma firme retomada do crescimento. Nós reduzimos o
superávit primário em 2009 e 2010, e tivemos crescimento especular de 7,5% em
2010.
Não é esse
déficit insignificante de 30 bilhões de reais, usado pela Folha para chantagear
o país e forçar o abandono do projeto social brasileiro, que constitui um
desarranjo da economia. O problema da economia é a ausência de um programa de
investimento público, mesmo que deficitário. O déficit público de hoje, quando
bem operado para investimentos em infraestrutura, torna-se crescimento do PIB e
da receita amanhã. Em outras palavras, ele se paga por si mesmo como ensina há
80 anos a boa doutrina keynesiana.
Se não
conseguirmos construir um grande pacto social para superarmos a crise econômica
e política, e se em lugar disso, intimidado pela Folha, o Governo implementar
um programa regressivo do tipo proposto por ela, já sabemos o endereço
aonde os doentes sem cobertura de saúde, os idosos e aposentados despojados de
direitos previdenciários, os estudantes pobres sem condições de pagar
faculdades, a turma do Bolsa Família e os sem casa e tantos outros pobres devem
procurar ajuda: vão todos para a porta da Folha, esperando que ela os
reenvie para a proteção do sistema bancário!
Leia AQUI editorial da Folha