Por LUIS NASSIF - Via Jornal GGN -
Não há limites para a irracionalidade de determinados
jornalistas econômicos e economistas ligados ao mercado.
Durante anos acostumaram-se com o mantra de que ajuste fiscal
é recomendado para qualquer circunstância. Não se está falando das práticas prudenciais,
mas do ajuste pelo ajuste.
Repetem o mantra como araras destrambelhadas, incapazes de
analisar cenários, pesar variáveis.
Mesmo ante todas as evidências, continuam defendendo as taxas
de juros irresponsavelmente elevadas do Copom, sob o argumento de que o lado
fiscal não está sendo executado.
São incapazes de entender correlações mínimas da economia, os
fatores que obrigam à compatibilização das políticas fiscal e monetária.
Qual a razão de se puxar mais pela monetária quando a fiscal está
frouxa? Reduzir o aquecimento da demanda supostamente produzida por uma
política fiscal frouxa.
Ora, não se consegue equilibrar as contas fiscais devido à
frustração das receitas decorrente da queda do nível de atividade econômica.
Como pretender que um déficit, fruto da redução da atividade econômica, esteja
pressionando a atividade econômica a ponto de responder pela inflação?
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O que está em jogo é mais do que a disputa pelo bolo, entre
mercado e atividade produtiva: é a própria estabilidade econômica e política.
É hora de se aceitar o inevitável: o plano Joaquim Levy
falhou. E não falhou pelo que deixou de conseguir, mas pelo que implementou até
agora.
Não se debite apenas a ele o tamanho da recessão.
Houve uma desatenção indesculpável com os efeitos da Lava
Jato sobre a economia. E não se vá culpar a força-tarefa. A responsabilidade
por minorar os efeitos econômicos caberia ao Executivo.
Desde o ano passado poderia ter sido negociado com o
Ministério Público Federal um acordo de leniência que punisse os acionistas
preservando as empresas. Aqui mesmo, mostrei a fórmula simples e óbvia:
1. Uma empresa vale, digamos R$ 2 bilhões.
2. Se tiver que ressarcir R$ 1 bilhão à Petrobras, quebra. Não
vai valer nada.
3. Se abrir como única porta a obrigação dos acionistas
controladores venderam sua participação, eles arrecadarão R$ 1 bilhão, pagarão
a Petrobras e a empresa sairia incólume, apenas mudando de controle.
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Não se
pensou em nenhuma saída. Deixou-se o setor de petróleo e gás à míngua, com a
presidente da República se comportando como se não tivesse nenhuma obrigação de
resolver o problema.
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Empresas de consultoria calcularam em 1 ponto percentual do
PIB os efeitos da Lava Jato sobre uma economia que já vinha despencando desde o
ano passado.
Mesmo assim, insistiu-se em um ajuste que busca a quadratura
do círculo: quanto mais corta, mais cai a atividade produzindo uma queda de
receita maior do que os cortes efetuados. E ainda há quem defenda mais cortes.
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Mais cedo ou mais tarde o governo terá que engavetar o plano
Levy e apresentar outro factível, que persiga o equilíbrio fiscal pelos
caminhos corretos: sendo prudente nos cortes e ousado na busca do crescimento
perdido.
Por tudo isso, e por conta do fato de que a crise também não
perdoa grupos de mídia, solicita-se um mínimo de bom senso a esses arautos do
mau mercadismo.