DANIELA ABREU -
As férias
acabaram, a falta de verba aumentou e a greve continua. De ponta a ponta do
país.
Funcionários
administrativos de 58 Universidades Federais estão parados e em muitas os
professores também continuam em greve. Embora os funcionários administrativos
reivindiquem 23% de aumento salarial, a principal questão é o violento corte
das verbas que atingiu a pasta da Educação Brasileira. Política clara vinda dos
países centrais do capitalismo.
Vivemos a chantagem de ter uma crise ou
ter uma crise pior. A população precisa viver a crise para que o capital não
viva. Entre tantas exigências o corte astronômico na verba da educação é
essencial para a garantia de uma educação voltada para a formação dos futuros
trabalhadores. A meritocracia é a fórmula ideal da precarização disfarçada de
sucesso. Alcançar metas tornou-se a base do trabalho acadêmico e não mais a
pesquisa, extensão e o conhecimento. O que medirá a qualidade de cada
instituição serão as metas alcançadas.
Sucatear as universidades públicas,
priorizar a verba para as instituições privadas não é uma nova política. A
década de noventa viveu o grande momento da precarização das federais, e nesta
época as faculdades privadas já gozavam com o crédito educativo e a política de
bolsas, que levava o governo federal a investir milhões.
Os tempos são outros, mas o
neoliberalismo reencontra sua melhor versão. Os governo petistas optaram por
não romper com o modelo neoliberal, mas fazer várias concessões ao povo. Como a
nossa margem da exclusão era uma das piores do mundo, adotar políticas
inclusivas, aumentando não apenas as cotas, mas bolsas de pesquisa, projetos de
extensão, novos cursos, departamentos, e muitos concursos públicos trazendo uma
grande quantidade de profissionais para as universidades públicas. Por outro
lado essas concessões não barraram o neoliberalismo na academia. A política de
metas cria raízes, as parcerias público/privada tornam-se alicerces de muitos
projetos acadêmicos, contribuindo para o aumento do ensino a distância.
Entramos na fase superior do neoliberalismo nas universidades federais, a
política meritocrática esbarra no corte de verba.
No ápice da crise quem sangra é o
publico, o conhecimento público, a pesquisa pública, a Universidade Pública.
Neste segundo semestre as universidades reiniciam definhando, o que já estava
precário sofre ainda mais, o corte de verba não é mais uma fase, mas uma
condição que atinge diretamente a academia. Na mesma semana que esta realidade
se impõe as universidades públicas o governo anuncia novo investimento no FIES.
O FIES, Fundo de Financiamento
Estudantil, é um programa destinado à concessão de financiamento do Ministério
da educação a estudantes matriculados em cursos superiores presenciais nas
instituições privadas de ensino. Enquanto as universidades públicas mínguam o
que tem dentro do caos irá para as universidades privadas. O programa do FIES é
inclusivo e colabora para a entrada da classe baixa nos cursos do ensino
superior, mas a inclusão seria maior se tivesse verba o suficiente para que as
vagas das universidades públicas fossem ampliadas visando a realidade da
demanda. Desta maneira não precisaríamos de instituições privadas de ensino
superior, mas esta possibilidade não contempla os donos do poder e a lógica do
capital.
Segundo Renato Janine, o ministro da
Educação, o programa do Fies terá reajuste de 6,5% ao ano e abrirá 61,5 mil
novos contratos no segundo semestre de 2015. Diversas Instituições Federais
de Ensino sinalizaram a inviabilidade de funcionamento e denunciavam que
enquanto o governo retira dinheiro da Educação Federal, para o Fies são
liberados mais R$ 5,1 bi.
Em relação a negociação das greves o
Ministério da Educação não apresentou nenhuma proposta, critica a greve
insinuando que não deveria ter ocorrido sem um diálogo prévio. Este
posicionamento denota ignorar o caos imposto as Universidades Federais com o corte
total de sete bilhões e meio da educação. Foram protocolados mais de 13 ofícios
para o governo federal afim de tratar as demandas das categorias em greve, até
agora nenhuma resposta e nem convocação para audiência.
A greve tem um caráter além do reivindicatório,
pois visa denunciar a precarização e o caminho do falecimento da universidade
pública e todo o conhecimento que a mesma produz. Professores e técnicos de
todo país gritam contra os cortes de verba e ainda exigem reajuste salaria,
reestruturação da carreira, garantia da autonomia e do caráter publico das
universidades.
As aulas voltaram e a greve continua do
Oiapoque ao Chui com direito a intenso calendário em variados estados e pressão
pela abertura das negociações.



