4.8.15

Universidades Federais definham e governo libera mais 5 bilhões pro Fies. Volta às aulas com gosto de desrespeito e ataque a Educação Pública

DANIELA ABREU -

As férias acabaram, a falta de verba aumentou e a greve continua. De ponta a ponta do país.

Funcionários administrativos de 58 Universidades Federais estão parados e em muitas os professores também continuam em greve. Embora os funcionários administrativos reivindiquem 23% de aumento salarial, a principal questão é o violento corte das verbas que atingiu a pasta da Educação Brasileira. Política clara vinda dos países centrais do capitalismo.

Vivemos a chantagem de ter uma crise ou ter uma crise pior. A população precisa viver a crise para que o capital não viva. Entre tantas exigências o corte astronômico na verba da educação é essencial para a garantia de uma educação voltada para a formação dos futuros trabalhadores. A meritocracia é a fórmula ideal da precarização disfarçada de sucesso. Alcançar metas tornou-se a base do trabalho acadêmico e não mais a pesquisa, extensão e o conhecimento. O que medirá a qualidade de cada instituição serão as metas alcançadas.

Sucatear as universidades públicas, priorizar a verba para as instituições privadas não é uma nova política. A década de noventa viveu o grande momento da precarização das federais, e nesta época as faculdades privadas já gozavam com o crédito educativo e a política de bolsas, que levava o governo federal a investir milhões.

Os tempos são outros, mas o neoliberalismo reencontra sua melhor versão. Os governo petistas optaram por não romper com o modelo neoliberal, mas fazer várias concessões ao povo. Como a nossa margem da exclusão era uma das piores do mundo, adotar políticas inclusivas, aumentando não apenas as cotas, mas bolsas de pesquisa, projetos de extensão, novos cursos, departamentos, e muitos concursos públicos trazendo uma grande quantidade de profissionais para as universidades públicas. Por outro lado essas concessões não barraram o neoliberalismo na academia. A política de metas cria raízes, as parcerias público/privada tornam-se alicerces de muitos projetos acadêmicos, contribuindo para o aumento do ensino a distância. Entramos na fase superior do neoliberalismo nas universidades federais, a política meritocrática esbarra no corte de verba.

No ápice da crise quem sangra é o publico, o conhecimento público, a pesquisa pública, a Universidade Pública. Neste segundo semestre as universidades reiniciam definhando, o que já estava precário sofre ainda mais, o corte de verba não é mais uma fase, mas uma condição que atinge diretamente a academia. Na mesma semana que esta realidade se impõe as universidades públicas o governo anuncia novo investimento no FIES.

O FIES, Fundo de Financiamento Estudantil, é um programa destinado à concessão de financiamento do Ministério da educação a estudantes matriculados em cursos superiores presenciais nas instituições privadas de ensino. Enquanto as universidades públicas mínguam o que tem dentro do caos irá para as universidades privadas. O programa do FIES é inclusivo e colabora para a entrada da classe baixa nos cursos do ensino superior, mas a inclusão seria maior se tivesse verba o suficiente para que as vagas das universidades públicas fossem ampliadas visando a realidade da demanda. Desta maneira não precisaríamos de instituições privadas de ensino superior, mas esta possibilidade não contempla os donos do poder e a lógica do capital.

Segundo Renato Janine, o ministro da Educação, o programa do Fies terá reajuste de 6,5% ao ano e abrirá 61,5 mil novos contratos no segundo semestre de 2015. Diversas Instituições Federais de Ensino sinalizaram a inviabilidade de funcionamento e denunciavam que enquanto o governo retira dinheiro da Educação Federal, para o Fies são liberados mais R$ 5,1 bi.

Em relação a negociação das greves o Ministério da Educação não apresentou nenhuma proposta, critica a greve insinuando que não deveria ter ocorrido sem um diálogo prévio. Este posicionamento denota ignorar o caos imposto as Universidades Federais com o corte total de sete bilhões e meio da educação. Foram protocolados mais de 13 ofícios para o governo federal afim de tratar as demandas das categorias em greve, até agora nenhuma resposta e nem convocação para audiência.

A greve tem um caráter além do reivindicatório, pois visa denunciar a precarização e o caminho do falecimento da universidade pública e todo o conhecimento que a mesma produz. Professores e técnicos de todo país gritam contra os cortes de verba e ainda exigem reajuste salaria, reestruturação da carreira, garantia da autonomia e do caráter publico das universidades.

As aulas voltaram e a greve continua do Oiapoque ao Chui com direito a intenso calendário em variados estados e pressão pela abertura das negociações.