Por MARCOS
SACRAMENTO - Via DCM -
Dias
atrás um homem foi assassinado aqui no Espírito Santo. Alecsandro José da
Silva, 37 anos, foi abordado no início da noite por um adolescente enquanto
estacionava sua Toyota Hilux em frente a um restaurante. O homem reagiu à
tentativa de assalto, foi baleado e morto. Ele iria comemorar o aniversário da
filha de quatro anos.
A despeito da comoção causada pelo crime, a cobertura da imprensa seguiu o
roteiro de praxe usado nos relatos de homicídios Brasil afora. Limitou-se a
questionar a falta de policiamento no local e o suposto risco de impunidade por
causa da idade do autor dos disparos.
Por
outro lado, outros fatos presentes na ocorrência não suscitaram
questionamentos, como a informação de que o veículo roubado seria revendido por
5 mil reais. Como um carro que custa mais de 100 mil é vendido por 20 vezes
menos no mercado negro? O carro seria desmanchado ou revendido após ser
adulterado?
Perguntas
semelhantes poderiam ser feitas em relação à origem da arma utilizada, por
exemplo, mas a imprensa se limitou a destacar o antagonismo vítima x algoz,
tratando o crime como um fenômeno isolado e não como resultado da complexa teia
da criminalidade.
“É
importante que a informação de homicídios, desastres, assaltos, tudo isso seja
transmitido, mas transmitido de uma forma que construa uma possibilidade do
telespectador se posicionar em relação a esse problema, se posicionar
politicamente, como cidadão, então o que de fato está acontecendo, quais são os
dados, quais são os números, que políticas públicas estão acontecendo, nada
disso aparece”, disse o psicólogo Davi Mamblona Marques Romão durante debate no
programa Ver TV, da TV Brasil.
Mestre
em Psicologia pela Universidade de São Paulo, Romão é autor da pesquisa
“Jornalismo Policial: indústria cultural e violência”, cujos objetos de
pesquisa foram os programas Brasil Urgente, Cidade Alerta e Balanço Geral.
Apesar
do estudo focar em produções sensacionalistas, mesmo veículos com tom mais
sóbrio produzem coberturas limitadas quando o assunto é segurança pública.
Exceções, como a reportagem do DCM sobre o helicóptero com 445 quilos de pasta
base de cocaína, ficam restritas a meios independentes.
O
problema é que a superficialidade da cobertura realizada pela mídia tradicional
não contribui para a busca de soluções coerentes para reduzir a criminalidade e
produz pouca pressão sobre as autoridades governamentais, que se limitam a
procurar “os suspeitos de sempre”, como disse o cínico Capitão Renault no filme
Casablanca.
Na
época em atuei na equipe da assessoria de comunicação da Sesp (Secretaria de
Estado de Segurança Pública do Espírito Santo), cansei de atender repórteres
que pediam “aquela notinha sobre o policiamento” para servir de resposta do
governo nas notícias de assaltos ou homicídios.
Para
o caso do Alecsandro, provavelmente pediriam uma fonte para entrevistar. Mas os
questionamentos seriam banais, sobre a falta de policiais na rua e o alerta
para a vítima nunca reagir ao assalto. Afinal, para a imprensa foi só mais um
homicídio cometido por um adolescente “vida loca” que queria um dinheiro para
torrar em drogas, nada mais que isso.



